CURRÍCULO: CONHECIMENTOS,
SABERES E CULTURAS.
Cada um de nós vê o mundo com os olhos que tem,
e os olhos vêem o que querem,
os olhos fazem a diversidade do mundo
e fabricam as maravilhas,
ainda que sejam de pedra, e altas proas,
ainda que sejam de ilusão ...
José Saramago
É consenso entre
os professores que os estudantes ao ingressarem na escola são detentores de conhecimentos
prévios, adquiridos na família, nos clubes, nas igrejas e nos mais diversos
grupos sociais a que são submetidos desde a mais tenra idade e a partir desses
conhecimentos possuem suas próprias concepções de mundo. Esses conhecimentos geralmente não são
valorizados no âmbito escolar. A escola é uma instituição inserida na sociedade
que possui rituais e rotinas pré-estabelecidos que “devem” ser seguidos de
forma sistemática e rigorosa. Ao ignorar tais conhecimentos, ou deixar de
pensar e construir democraticamente formas de abordar e avaliar esses
conhecimentos de forma igualitária e integrada a escola contribui para manter a
histórica hegemonia de alguns conhecimentos mais aceitos socialmente em
detrimento de outros considerados saberes populares, reforçando as desigualdade
sociais e desconsiderando a diversidade cultural existente no país.
É imprescindível que a
escola enquanto instituição privilegiada de construção e socialização de
conhecimentos adquira a consciência coletiva da sua importância na promoção das
discussões acerca da organização curricular, compreendendo a relevância do currículo
na formação pessoal e social dos estudantes.
Os conhecimentos produzidos na escola possuem características únicas que
os diferenciam dos demais conhecimentos produzidos fora do espaço escolar, ainda
assim, para que eles adquiram significado e contribuam para a formação cidadã, devem
ser trabalhados de forma contextualizada, na perspectiva de que qualquer
conhecimentos possam ser discutidos, criticados e resinificados.
O conhecimento escolar compreende a
socialização do conhecimento cientifico produzido pela humanidade, essa deve ser
à base da organização curricular. No entanto a busca da qualidade educativa
pressupõe seleção criteriosa de conhecimentos relevantes que contemplem o
dialogo entre os saberes escolares e os saberes ditos populares, sem privilégio
e uma ou de cultura. Esse diálogo deve
proporcionar aos estudantes, a partir do seu conhecimento prévio e cotidiano,
das suas experiências de vida e concepções de mundo, conhecer outros modos de ser
e de viver, levando-os a reconhecer-se, questionar e questionar-se, mudar e
propor mudanças, ampliando conhecimentos e visão de mundo, sendo capaz de
tornar-se agente de transformações pessoais e sociais. Buscando através do
conhecimento a superação dos preconceitos, da intolerância, das verdades
absolutas, da divisão de classes sejam elas quais forem.
A Educação Integral tem importante
papel na construção de um currículo integrado, no sentido de articular os
diferentes saberes na produção de conhecimento para a verdadeira “ação” social.
Essa visão exige uma nova postura tanto
da instituição escola, como em particular do professor, na predisposição para a
reflexão sobre o papel social da escola, na relação escola e sociedade, na construção
de um projeto de escola com base democrática,
a criação de novas estratégias de abordagem centradas no dialogo, na inclusão
de práticas escolares que incluam além da socialização do conhecimento
cientifico, o desenvolvimento de habilidades, valores de forma articulada na
perspectiva de uma formação humana na sua essência. Guará 2006 perspectivas humanística
da Educação
ARROYO, Miguel G. Currículo,
Conhecimento e Cultura. In: Indagações sobre currículo. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.
BRASIL. Educação Integral:
Texto referência para o debate nacional. Brasília: MEC, Secad, 2009.
YUS,
Rafael. Uma paradigma holístico para a educação. Revista Pátio, Porto Alegre, n. 51, p.20-22, ago. 2009.