sábado, 4 de agosto de 2012


Escritores da Liberdade: O Pensar Pedagógico.

Escritores da Liberdade é um filme baseado em fatos reais, estrelado pela atriz Hillary Swank, que vive a personagem da professora “Erin Gruwell”. A história se passa na Los Angeles do início dos anos 90, que neste período vive uma verdadeira guerra civil nos seus bairros mais pobres, gerada principalmente pelas diferenças raciais e pela intolerância.
Neste cenário uma jovem professora (não somente em idade, mas na profissão) se propõe a ensinar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional; e todos, reféns das gangues, mas principalmente, estigmatizados como “os sem-futuro” pelos demais professores.
            A professora chega cheia de expectativas à sala de aula, imaginando que todos os alunos iriam responder ao seu novo modelo educacional, diante da resistência dos alunos, os primeiros encontros tornam-se frustrantes, as brigas, e as insatisfações são constantes, ela é simplesmente ignorada pelos alunos a ponto de ficar sozinha em sala de aula.
Diante dessa situação a professora percebe e sensibiliza-se com as dificuldades destes jovens, e põe em prática métodos de ensino que fogem do paradigma vigente na escola, tornando-se assim ela mesma vítima de preconceito e descrença por parte da direção e de seus colegas, por ser jovem, diferente e estar a pouco tempo na profissão. Entende assim que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, um dos exemplos disto é a visita que a turma realiza ao Museu do Holocausto, e o encontro com vítimas deste, possibilitando aos alunos conhecerem os efeitos traumáticos sociais e pessoais da ideologia da “grande gangue” nazista, que provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas “pequenas gangues” da escola.
Outra metodologia aplicada pela professora foi entregar aos alunos um caderno no qual deveriam escrever sobre suas vidas, seus problemas, vivências, anseios e sonhos, além disso, trouxe leituras sobre episódios importantes para a história da humanidade, sendo um deles livro “O Diário de Anne Frank”. O objetivo era fazer com que os alunos conhecessem o Holocausto e compreendessem a importância do respeito e da tolerância, como base para uma boa convivência e que se fossem colocados em prática constantemente evitariam inúmeras tragédias e conflitos.
Cabe salientar que esta metodologia foi aceita pela turma, demostrando assim que os alunos precisavam ser ouvidos, algo que até então não havia sido proporcionado a eles. Por serem considerados “alunos problemáticos”, na grande maioria das vezes, estes eram mais acusados e do que ouvidos. Mesmo a professora tendo agido intuitivamente, está metodologia criou uma relação de afetividade que permitiu aos alunos o crescimento da confiança na professora e assim a aceitação ao ensino.
O filme nos leva a diversas reflexões, mas duas são mais visíveis, a primeira diz respeito à afetividade, enquanto que a segunda nos faz refletir sobre a formação do ser pensante.
È importante entendermos quão poderosas são as relações de afetividade entre aluno/professor, onde a história de vida de ambos é considerada e utilizada como instrumento positivo ao desenvolvimento humano e para a construção de uma escola solidária. Pensando nesta perspectiva Moraes de Souza traz:

“O desenvolvimento humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas também e, principalmente, em aspectos afetivos. Assim, a sala de aula é um grande laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno, às vezes, a ficar desgastado e sem estímulo”. (SOUZA, Clélia Maria de. A afetividade na formação da autoestima do aluno, Rio de Janeiro, 2002, p. 10).

Ao utilizar novas metodologias de ensino, a Senhora G como é chamada pelos alunos, leva os mesmos a pensarem sobre sua vida, sobre a sociedade em que vivem e sobre suas escolhas. Essa técnica nos remete a uma questão, a da incapacidade de a escola levar os alunos para pensar.
Essa falta contribuí para que as crianças e adolescentes fiquem sujeitos à tirania de uma maioria qualquer (grupo social, tribos, gangs, como no caso do filme) e de líderes sejam políticos, religiosos ou socais. Portanto, o ato educativo de Erin é ao mesmo tempo político e ético, porque visa ajudar os alunos a tornarem-se cidadãos ativos, capazes de exercitar o pensamento crítico sobre a realidade e seus atos.
O ensino regular tem como objetivo levar os alunos aprenderem os conteúdos curriculares. Contudo, não se apenas ensinar. Um ensino sem educação para “o pensar” é vazio. Uma educação sem aprendizagem dos conteúdos também é vazia. Ensinar e educar implica em responsabilidades: pedagógica, política e moral, dentro e fora da escola; tornando assim o ensino uma responsabilidade social.
Como defende Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, o professor desempenha um papel social indispensável na construção e reconstrução das realidades sociais, a partir do momento em que cada um de nós se descobre transformador de sua própria vida. É preciso, portanto, criar dispositivos para que aprendamos e ensinemos a acolher e contextualizar as situações de vida dos alunos com as de outras vidas relatadas pela história da humanidade para que os alunos aprendam a significar suas histórias com outras histórias e assim construir e entender a sua própria.

                                                                                              
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 29º ed. São Paulo (SP): Paz e Terra; 2000.
SOUZA, Clélia Maria de. A afetividade na formação da autoestima do aluno, Rio de Janeiro, 2002, p. 10.


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