Escritores da Liberdade: O Pensar Pedagógico.
Escritores da Liberdade
é um filme baseado em fatos reais, estrelado pela atriz Hillary Swank, que vive
a personagem da professora “Erin Gruwell”. A história se passa na Los Angeles
do início dos anos 90, que neste período vive uma verdadeira guerra civil nos
seus bairros mais pobres, gerada principalmente pelas diferenças raciais e pela
intolerância.
Neste cenário uma jovem professora (não somente em
idade, mas na profissão) se propõe a ensinar Língua Inglesa e Literatura para
uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional; e todos, reféns
das gangues, mas principalmente, estigmatizados como “os sem-futuro” pelos
demais professores.
A professora chega cheia de expectativas à sala de
aula, imaginando que todos os alunos iriam responder ao seu novo modelo educacional,
diante da resistência dos alunos, os primeiros encontros tornam-se frustrantes,
as brigas, e as insatisfações são constantes, ela é simplesmente ignorada pelos
alunos a ponto de ficar sozinha em sala de aula.
Diante dessa
situação a professora percebe e sensibiliza-se com as dificuldades destes
jovens, e põe em prática métodos de ensino que fogem do paradigma vigente na
escola, tornando-se assim ela mesma vítima de preconceito e descrença por parte
da direção e de seus colegas, por ser jovem, diferente e estar a pouco tempo na
profissão. Entende assim que seu trabalho deve ir para além da sala de aula,
um dos exemplos disto é a visita que a turma realiza ao Museu do Holocausto, e
o encontro com vítimas deste, possibilitando aos alunos conhecerem os efeitos
traumáticos sociais e pessoais da ideologia da “grande gangue” nazista, que
provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as
semelhanças com suas “pequenas gangues” da escola.
Outra metodologia aplicada pela professora foi entregar
aos alunos um caderno no qual deveriam escrever sobre suas vidas, seus
problemas, vivências, anseios e sonhos, além disso, trouxe leituras sobre
episódios importantes para a história da humanidade, sendo um deles livro “O
Diário de Anne Frank”. O objetivo era fazer com que os alunos conhecessem o
Holocausto e compreendessem a importância do respeito e da tolerância, como
base para uma boa convivência e que se fossem colocados em prática
constantemente evitariam inúmeras tragédias e conflitos.
Cabe salientar que esta metodologia foi aceita pela
turma, demostrando assim que os alunos precisavam ser ouvidos, algo que até
então não havia sido proporcionado a eles. Por serem considerados “alunos problemáticos”,
na grande maioria das vezes, estes eram mais acusados e do que ouvidos. Mesmo a
professora tendo agido intuitivamente, está metodologia criou uma relação de
afetividade que permitiu aos alunos o crescimento da confiança na professora e
assim a aceitação ao ensino.
O filme nos leva a diversas reflexões, mas duas são mais
visíveis, a primeira diz respeito à afetividade, enquanto que a segunda nos faz
refletir sobre a formação do ser pensante.
È importante entendermos quão poderosas são as relações
de afetividade entre aluno/professor, onde a história de vida de ambos é
considerada e utilizada como instrumento positivo ao desenvolvimento humano e
para a construção de uma escola solidária. Pensando nesta perspectiva Moraes de
Souza traz:
“O desenvolvimento
humano não está pautado somente em aspectos cognitivos, mas também e,
principalmente, em aspectos afetivos. Assim, a sala de aula é um grande
laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o convívio
escolar do professor e aluno, às vezes, a ficar desgastado e sem estímulo”.
(SOUZA, Clélia Maria de. A afetividade na formação da autoestima do
aluno, Rio de Janeiro, 2002, p. 10).
Ao utilizar novas
metodologias de ensino, a Senhora G como é chamada pelos alunos, leva os mesmos
a pensarem sobre sua vida, sobre a sociedade em que vivem e sobre suas escolhas. Essa técnica nos remete a uma
questão, a da incapacidade
de a escola levar os alunos para pensar.
Essa falta contribuí para que as crianças e
adolescentes fiquem sujeitos à tirania de uma maioria qualquer (grupo social,
tribos, gangs, como no caso do filme) e de líderes sejam políticos, religiosos
ou socais. Portanto, o ato educativo de Erin é ao mesmo tempo político e ético,
porque visa ajudar os alunos a tornarem-se cidadãos ativos, capazes de
exercitar o pensamento crítico sobre
a realidade e seus atos.
O ensino regular tem como objetivo levar os alunos
aprenderem os conteúdos curriculares. Contudo, não se apenas ensinar. Um ensino
sem educação para “o pensar” é vazio. Uma educação sem aprendizagem dos
conteúdos também é vazia. Ensinar e educar implica em responsabilidades:
pedagógica, política e moral, dentro e fora da escola; tornando assim o ensino
uma responsabilidade social.
Como defende
Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, o professor desempenha um papel social
indispensável na construção e reconstrução das realidades sociais, a partir do
momento em que cada um de nós se descobre transformador de sua própria vida. É preciso, portanto, criar
dispositivos para que aprendamos e ensinemos a acolher e contextualizar as
situações de vida dos alunos com as de outras vidas relatadas pela história da
humanidade para que os alunos aprendam a significar suas histórias com outras
histórias e assim construir e entender a sua própria.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 29º ed. São Paulo (SP): Paz e Terra;
2000.
SOUZA, Clélia Maria de. A afetividade na formação da autoestima do aluno, Rio de Janeiro, 2002, p. 10.
SOUZA, Clélia Maria de. A afetividade na formação da autoestima do aluno, Rio de Janeiro, 2002, p. 10.
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